Santa Luzia, bendita!
Santa Lúcia de Siracusa, popularmente conhecida por Santa Luzia – a quem o Imperador Diocleciano, que era um bom estafermo, mandou tirar os olhos, muito arreliado que estava com a firmeza da Fé da virgem siracusense – é muito justamente a padroeira dos oftalmologistas e, esgotada a ciência, último recurso seguro dos aflitos da vista.
Esclareça-se os mais incréus, que já se apressam a apontar a antinomia, que este estatuto da santa não lhe adveio de ter ficado ceguinha, que disso ninguém está livre e não fica santo por essa desdita. Foi antes, está bom de ver, pelo formidável milagre que se produziu logo a seguir à cruel desolhação de Lúcia: o poder da Fé inquebrantável da moça logo lhe fez nascer no rosto novos olhos, ainda mais lindos e de visão mais apurada que os anteriores.
Muito adequadamente, por isso, no lugar de Santa Luzia, debruçado sobre o Leça, a creche que lá se ergueu por estes dias, para prosseguir a nobre missão de dar as primeiras luzes aos infantes daquelas paragens, tomou como seu o nome do lugar e se chama, ela também, Creche de Santa Luzia, homenageando de uma penada, sem querer, a visão (lá está!) daqueles que, muito antes dos comuns, foram antecipando o futuro e dos que, depois, não se negaram às maçadas e afazeres da empreitada.
Isto, no fundo, anda tudo ligado.