Azrou
Azrou, Marrocos | 2014 © Mário Araújo
A jornada para Azrou correu sem novidade, tirando a muito suíça e real estância de esqui de Ifrane e a amizade que fizemos com dois burros, com quem partilhamos o almoço.
Porém, confesso que a entrada na cidade me deixou apreensivo. E se eu já vinha inquieto porque a viagem, desde Fez, passou a fazer-se sem rede, ainda mais fiquei com a entrada na cidade de Azrou, feita, por engano de navegação, pelo interior de um bairro que parecia copiado de um documentário sobre Bagdad – ruas desertas e esburacadas, prédios decrépitos e um ambiente geral que me parecia muito assustador. Verdade se diga que – custa-me reconhecê-lo – com o espírito temeroso que me animava por aquela altura, até o Bambi me pareceria assustador.
Rapidamente, porém, se nos apresentou a rotunda da estrada nacional e se desanuviou o cenário, que de bagdadico passa a ser o habitual por estes azimutes: grande corrupio de gentes, viaturas e animais; e dezenas de oficinas de mecânica amontoadas à entrada da cidade. E, agora que me lembro disso, ainda estou para saber como é que vindo nós do lado do nordeste acabamos por entrar pelo noroeste.
A rua principal acaba por ser um boulevard comercial jeitoso, onde abancaremos para a bica no muito europeu e moderno Café Le Sapin, estabelecimento que ademais, além de wifi gratuita (surpreendentemente omnipresente até nas partes mais remotas do reino) oferecia à clientela serviço de padaria, a cargo de umas moças muito pasmadas por nos verem, e que muito útil nos foi para abastecimento da dispensa rolante e salvaguarda do jantar desse dia, que haveria de se completar com um frango que assava no estabelecimento adjacente, e que, comprado, se acompanhava com formidável lote de guarnições e acompanhamentos de toda a sorte, que pediam meças a qualquer banquete de faraó. Frango que, porém, haveríamos de não comer ao jantar por causa do mais rocambolesco caso que nos haverá de suceder nestas mourarias, que ainda me trespassa um frémito sempre que me lembro do acontecido. Lá chegaremos.
Por ora, é bastante saber-se que viemos por Azrou por causa dos macacos. Não que haja por aqui zoo que se note, mas porque nos chegou notícia de que por estas latitudes vivem diversas famílias macacas na famosa floresta chamada dos cedros, o qual sítio agora vamos em demanda, porque havia de ser um memorável caso dar-se um encontro inesperado com alguma família de monos selvagens.
Ala, por isso, que se faz noite e os macacos são animais que gostam de ser deitar cedo.
Mas antes de sair desta cidade, encham-se os depósitos e jerricans de gasóleo, que nunca se sabe quando veremos outra mangueira de combustível na terra inóspita que vamos entrar, na qual, raisparta a lembrança inoportuna, teremos que pernoitar, sabe-se lá em que quelha escura cheia de zés-do-telhado islâmicos à nossa espera para nos judiar.
Ao rapaz da gasolineira pergunto eu se os macacos têm aparecido por aquelas bandas, ao que ele me replica, em refinada pilhéria, que em Marrocos havia muitos macacos, mas era em Rabat, no governo.