Crónicas do Monte do Pardal – IV
Não se ignora a mais-valia que constitui, para qualquer terra que viva da oferta turística, ter uma patrulha a cavalo da GNR residente. Aumenta muito a sensação geral de segurança, sentida pelos visitantes, saber que numa terra tão próxima da barbárie, existe cavalaria por perto, pronta malhar de cima para baixo em qualquer assomo de desordem ou socialização de bens alheios.
Mas acho que mais valioso para o Turismo ainda é o valor plástico do patrulhamento hípico. Dão excelentes cartões postais de ocasião e por isso são muito requisitados para posar para o recuerdo fotográfico.
Os moços da nossa Guarda devem passar por um rigoroso processo de seleção, pois que são todos muito cheios de garbo, muito direitos nas suas montadas, ataviados nas suas fardas reflectoras e botas de cabedal. Briosos da sua função e simpáticos como nunca vi outros. São, aliás, justamente, o ai jesus de todas as alemãs do parque de campismo local.
E falamos no geral, porque em especial, a dupla formada pelo cabo Malhadas e pela Ruça reúne aqueles predicados todos em dobro: a cavalgadura, muito alta e elegante no pisar; o cabo, um Cary Grant muito hábil no manejo do ginete, que fazia da Ruça o que queria. Via-se que nascera para aquilo e que tinha, desde o berço, muito redondel.
Fala-se até à boca pequena que o nosso Cary Grant da Guarda é filho bastardo de um fidalgo toureiro e que fora entregue a um campino para criação. E, de facto, é um regalo vê-los percorrer a passo, a trote, de lado, às arrecuas, em movimentos muito fluídos e naturais, para cima e para baixo a Variante 19 de Abril, de onde não saem, pois é por lá que andam as alemãs.
Mas, não há bela sem senão. Está tudo muito certo e é tudo muito bonito, mas alguém tem que pôr o dedo na ferida. É que as éguas da Guarda são uns animais de encher o olho, mimosas e úteis como só elas, todas muito bem adestradas em tudo que é arte hípica, menos no trânsito intestinal. São umas cagonas, como afoitamente já adiantou um nosso leitor especialista. Onde a natureza chamar é onde se aliviam e siga a dança sem parar.
Era de esperar que em tais ocorrências inopinadas, o nosso cabo, imbuído do espírito de missão que se espera de um soldado, apeasse e sacasse do alforge o respectivo saquinho de plástico. Bem sei que um animal assim alentado como a Ruça, quando faz o seu serviço, aquilo parecem broas de quilo. Mas, que diabo, não pode ser cagar e andar.
Resultado: tenho a Variante 19 de Abril toda cagada.
São detalhes destes que dão mau nome ao país e tornam inúteis todos os sacrifícios que fazemos para tentar regressar aos mercados internacionais. E eu não vejo ninguém com coragem para denunciar. Mas para isso é que estou cá eu.
Monte do Pardal, dia de S. Bartolomeu +6